sábado, 27 de setembro de 2008

Crescimento Responsável




Nós não somos crianças inocentes vitimazadas por um mundo grande e mau. Se o nosso mundo é grande e mau, somos nós que o fazemos desta forma. Isto é o que Buddha ensinou. O "outro" é o papão da criança, é a projeção dos nossos próprios medos em relação a algo horrível existente na nossa imaginação, que por sua vez nos aterroriza. Nossa ignorância é não vermos que somos o outro. Nós não podemos permitir confundir inocência com esta ignorância. A violência não é um objecto permanente, imutável e fixo. É um estado de mente, uma expressão da ignorância, que não é mais sólido do que uma nuvem. Nós não podemos fazer um ataque frontal à violência. Mesmo proteger-nos da sua existência, ela continua a ser um papão. Mas o Buddha ensinou que podemos mudar. Esta é a boa notícia que ele nos trouxe: que existe uma maneira de aliviar os sofrimento e esta é libertar as nossas mentes de avareza, raiva e ignorância. Mas até nós apreendermos as maneiras em que nós somos as bombas e os ursos de bebês, as vítimas e os violadores, vamos continuar a culpar a "eles", enquanto proclamamos a nossa inocência e escapando das nossas responsabilidades.
Helen Tworkov, Tricycle: The Buddhist Review, Vol. V, #1

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Nada e Tudo




O grande professor indiano Nisargadatta Maharaj disse uma vez, "A sabedoria diz-me que eu sou nada. O amor diz-me que eu sou tudo. Entre os dois a minha vida flui". "Sou nada" não quer dizer que temos um deserto desolado dentro de nós. Significa sim, que com consciência nós abrimos a um espaço claro e limpido, sem centro ou periferia, onde nada é separado. Se somos nada, não existe absolutamente nada a servir como uma barreira nem limites para a nossa livre expressão do amor. Ao sermos nada, nós somos também, inevitavelmente, tudo. "Tudo" não quer dizer auto-engrandecimento, mas um reconhecimento decisivo da interligação; de que nós não estamos separados. Então ambas as sensações; como o claro espaço aberto do "nada" e o a sua ligação ao "tudo" acordar-nos para a nossa verdadeira natureza.

Esta é a verdade que nós contactamos quando meditamos, um sentido de unidade para além do sofrimento. Está sempre presente; nós meramente necessitamos poder acedê-lo.



Sharon Salzberg, Lovingkindness

sábado, 20 de setembro de 2008

Perdendo a nossa Vida



Repetidas vezes, o Gita muda a nossa perspectiva de cabeça para baixo, assim como faz com Arjuna. Muda o nosso sentido de como é que é a nossa vida. Assim quando começamos a adoptar a perspectiva do Gita como a nossa perspectiva, notaremos que o nosso foco de atenção começa a mudar. Em vez de sempre estarmos preocupados em obter aquilo que queremos ou necessitamos, começamos a acalmar, começamos a escutar. Esperaremos por esse estímulo interior. Tentamos ouvir, antes de decidirmos, o que devemos fazer a seguir. E assim ao escutarmos, ouviremos o nosso dharma cada vez mais claramente, e então começaremos a afinar cada vez mais os nossos actos com esse local de sabedoria mais profunda. E enquanto isso acontece, toda a nossa fascinação com os nossos papéis e os nossos planos e os nossos desejos e os nossos melodramas começarão a cair. Cada vez mais, nós nos abriremos a ser somente os instrumentos do dharma. E então descobriremos que perdemos a nossa vida – e encontrámo-la.


"...Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la..." Envangelho segundo S. Mateus

Ram Dass "Paths to God, living the Bhagavad Gita"

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A Psicologia da Dança


A dança permite restabelecer o elo com o nosso passado primitivo e distante, com a memória corporal que cada um trás dentro de nós e que pode ser actualizado através da música". (Coda Magazine, Maio de 2001).


As danças Tribais fazem reviver a experiência original através da dinâmica de grupo, que, como um corpo materno, carrega, embala e move o corpo do dançarino. São memórias vivas de uma mensagem da civilização que ultrapassa a história. A dança é eterna, tanto a antiga como a moderna. Depois de milhares de anos, de uma forma formidável e contínua, ela conta a mesma história, a da felicidade fundamental do ser humano, a de pertencer a uma comunidade humana. O isolamento é a negação do ser humano através dos anos.


Os artistas ajudaram-nos a entender que a nossa própria identidade (assim como a do futuro longínquo) depende da reintrodução na nossa sociedade moderna dos princípios de vida encontradas pelos indigenas, isto é a criação de uma ética de franqueza e abertura pelo o Outro. (Esta também é a posição que a psicanálise adopta em relação ao Outro dentro de nós, o que está escondido, o inconsciente, que só podemos aceder através da desconstrução dos personagens imaginários; que devemos descamar um a um, dissecando-os para chegarmos ao coração, ao nosso âmago mais enterrado).


A função terapêutica está neste movimento de descontrução-reconstrução do primitivismo e encontrasse ligada ao processo poético ou aos processos primários descritos por Freud. No entanto, em contraste com psicanálise, "dança é uma terapia sem divã, que se faz entre outras espécies, mais democrática e mais acessível! Todo o mundo pode beneficiar e rapidamente…Traz prazer sem perigo, solta sem a auto-destruição, ao contrário da droga e o uso do álcool," (France Schott Billmann, Paris Match nº 2892, 27 de Outubro de 2004)


"A Dança tem as suas virtudes — liberta, unifica, põe em contato, reune-se e junta o que está desfeito. Indo um pouco mais além, podemos dizer que ela cura. Essa é a razão pela qual a terapia da dança está em voga nos hospitais. Praticado desde de 1950, o movimento é usado para libertar tensões, canaliza e reorienta os ímpetos. Acalma e elimina os comportamentos agressivos e tranqüiliza as personalidades psicóticas e fóbicas," (France-Soir, 28 de Novembro de 2001).


Em conclusão, podemos dizer que a dança, por transmitir ao mesmo tempo prazer e regras, é de fato uma arte estruturante que reforça a construção de uma identidade e que constitui uma terapia particularmente eficiente.


France Schott Billmann

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A União entre Shiva e Shakti


No sistema das divindades Hindus, Shiva e Shakti entrelaçam-se num estado constante de paixão divina, representando a regeneração eterna das forças do universo. Eles também representam as polaridades universais dentro de nós todos: Shiva, a força sem limites da consciência pura; e Shakti, a energia primordial da criação. Quando Shiva e Shakti se unem, Shiva dá poder ao potencial inerente de Shakti. A união deles cria a todos os niveis manifestação e realização do eterno estado de estar no coração.

Shiva e Shakti primeiro encontram-se no Anahata, o lugar do coração. Shiva, residindo na coroa (topo), está contente e a sonhar no seu próprio domínio, sendo regente de tudo o que supervisiona.

Shakti chama Shiva, dizendo: "Acorda, meu Senhor, e desce para a vida comigo. Confia em mim, meu senhor, eu só estou aqui unicamente para a nossa união e para realização dos teus sonhos mais altos; por favor acredita que os teus sonhos são também os meus." "Dentro de mim reside a realização de todo o teu potencial bem como também a coragem para enfrentares os teus medos de deixar o luxo e o conforto do teu próprio céu. Através de mim reside o caminho da tua própria transformação."

"Se não acreditas em mim, permanecerás, sonhando eternamente, no reino de céu. Se escolheres não te manifestares na criação, não respondas ao meu apelo. Se tu não te queres tornar-te em tudo o que está destinado para ser, escolhe, então, permanecer a dormir".

E ouvindo-a, Shiva escolhe responder-lhe ao chamado.

Chakra a Chakra, ela puxa-o da sua cabeça e do seu coração, para fora do seu intelecto e do seu idealismo. Unida à sua irmã negra, a feroz e sexual Kali, despertam Shiva do seu sono e o trazem para o centro violento da sua resistência e do seu medo.

Através do fogo e da paixão da Kali e com o encaminhar amoroso da sábia Shakti, Shiva encontra o seu lar em Shakti e através dela ele alcança plenamente todo o seu potenial atingindo a sua meta. É desta união que toda a criação flui eternamente. Quando é permitido fluir com segurança, a paixão traz-nos o presente da alegria. É o néctar dos deuses, compartilhar a alegria é um sacramento potente, é como uma bebida nutritiva que leva a energia para os chakras superiores, abrindo o coração e trazendo a união e a graça.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Tudo o que precisamos é Amor



O inimigo mais próximo do Amor é o apego. O apego mascara-se como Amor. Diz, "Eu vou-te amar se tu me amares". É um tipo de "homem de negócios" do amor. Então pensamos, "amarei esta pessoa desde que ela não mude. Amarei esta coisa se ela for da maneira que eu quero". Mas isto não é de todo Amor -- é apego. Há uma grande diferença entre o Amor, que permite e honra e aprecia, e o apego, que agarra e exige e quer possuir. Quando o apego é confundido com amor, na realidade vai-nos separar da outra pessoa. Sentimos que necessitamos dessa outra pessoa para sermos felizes. O apego também leva-nos a oferecer amor só a certas pessoas, excluindo as outras.

Joseph Goldstein, in Seeking the Heart of Wisdom

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Alegria versus Tristeza


Mesmo que te aconteça uma desgraça, considera com cuidado;

Olha bem aquele que te causa esse percalço.

A vista que contempla o fluxo e o refluxo das coisas boas e más

Abre para ti uma passagem do infortúnio para a felicidade.

Vês, portanto, como um estado leva-te a outro,

Um estado oposto gerando seu oposto em troca.

Se não sofreres temores depois de alegrias,

Como podes esperar prazeres depois de desgostos?

Enquanto temes a condenação do anjo da esquerda,

Os homens esperam a benção do anjo da direita.

Que possas ganhar duas asas! Um pássaro só uma asa

É impotente para voar, ó bem intencionado!...

Rumi

terça-feira, 2 de setembro de 2008

O Objecto que é agora



Não corras atrás do passado
Não procures o futuro
O passado já passou
O futuro ainda não veio
Mas vê claramente no ponto
O objecto que é agora
Enquanto encontrado e vivido nele
Um estado de mente parado e sem se mover


Bhikkhu Mangalo, The Practice of Recollection